terça-feira, março 20, 2007

DESENGANADO DO AMOR E DA FORTUNA

-XXV-

Fiei-me nos sorrisos da ventura,
Em mimos femenis ,como fui louco!
Vi raiar o prazer ;porém tão pouco
Momentâneo relâmpago não dura:

No meio agora desta selva escura,
Dentro deste penedo húmido e oco,
Pareço, até no tom lúgrubre e rouco,
Triste sombra a capir na sepultura:

Que estância para mim tão própria é esta!
Causais-me um doce e fúnebre transporte,
Áridos matos,lôbrega floresta!

Ah!não me roubou tudo a negra sorte:
Inda tenho este abrigo,inda me resta
O pranto,a queixa,a solidão e a morte.

-BOCAGE-

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