-V-
Já sobre o coche d,ebano estrelado
Deu meio giro a noite escura e feia;
Que profundo silêncio me rodeia
Neste deserto bosque ,à luz vedado!
Jaz entre as folhas Zéfiro abafado,
O Tejo adormeceu na lisa areia;
Nem o mavioso rouxinol gorjeia,
Nem pia o mocho ,às trevas costumado:
Só eu velo ,só eu,pedindo à sorte
Que o fio com que está minha alma presa
À vil matéria lânguida me corte:
Consola-me este horror esta tristeza;
Porque os meus olhos se afigura a morte
No silêncio total da natureza.
-BOCAGE-
quarta-feira, fevereiro 28, 2007
terça-feira, fevereiro 27, 2007
CONTRA A INGRATIDÃO DE NISE
-IV-
Raios não peço ao criador do mundo,
Tormentas não suplico ao rei dos mares,
Vulcões à terra,furacões aos ares,
Negros monstros ao báratro profundo:
Não rogo ao Deus d,amor,que furibundo
Te arremesse do pé de seus altares;
Ou que a peste mortal voe a teus lares
E murche o teu semblante rubicundo:
Nada imploro em teu dano,ainda que os laços
Urdidos pela fé,com vil mudança
Fizeste,ingrata Nise,em mil pedaços:
Não quero outro despique,outra vingança,
Mais que ver-te em poder de indignos braços,
E dizer quem te perde e quem te alcança.
-BOCAGE-
Raios não peço ao criador do mundo,
Tormentas não suplico ao rei dos mares,
Vulcões à terra,furacões aos ares,
Negros monstros ao báratro profundo:
Não rogo ao Deus d,amor,que furibundo
Te arremesse do pé de seus altares;
Ou que a peste mortal voe a teus lares
E murche o teu semblante rubicundo:
Nada imploro em teu dano,ainda que os laços
Urdidos pela fé,com vil mudança
Fizeste,ingrata Nise,em mil pedaços:
Não quero outro despique,outra vingança,
Mais que ver-te em poder de indignos braços,
E dizer quem te perde e quem te alcança.
-BOCAGE-
segunda-feira, fevereiro 26, 2007
SONHO
-III-
De suspirar em vão já fatigado,
Dando trégua a meus males eu dormia;
Eis que junto de mim sonhei que via
Da morte o gesto lívido e mirrado:
Curva fouce no punho descarnado
Sustentava a cruel,e me dizia:
«Eu venho terminar tua agonia;
Morre ,não penes mais ,ó desgraçado!»
Quis ferir-me ,e de Amor foi atalhada,
Que armado de cruentos passadores
Aparece,e lhe diz com voz irada:
«Emprega noutro objecto os teus rigores;
Que esta vida infeliz está guardada
Para vítima só de meus furores.»
-BOCAGE-
De suspirar em vão já fatigado,
Dando trégua a meus males eu dormia;
Eis que junto de mim sonhei que via
Da morte o gesto lívido e mirrado:
Curva fouce no punho descarnado
Sustentava a cruel,e me dizia:
«Eu venho terminar tua agonia;
Morre ,não penes mais ,ó desgraçado!»
Quis ferir-me ,e de Amor foi atalhada,
Que armado de cruentos passadores
Aparece,e lhe diz com voz irada:
«Emprega noutro objecto os teus rigores;
Que esta vida infeliz está guardada
Para vítima só de meus furores.»
-BOCAGE-
domingo, fevereiro 25, 2007
O AUTOR AOS SEUS VERSOS
-II-
Chorosos versos meus desentoados,
Sem arte,sem beleza e sem Desventura,
Unidos pela mão da Desventura,
Pela baça Tristeza envenenados:
Vede a luz,naõ busqueis,desesperados,
No mundo esquecimento a sepultura;
Se os ditosos vos lerem sem ternura,
Ler-vos-ão com ternura os desgraçados:
Não vos inspire,ó versos,cobardia
Da sátira mordaz o furor louco,
Da maldizente voz e tirania:
Desculpa tendes,se valeis tão pouco,
Que não pode cantar com melodia
Um peito de gemer cansado e rouco.
-BOCAGE-
Chorosos versos meus desentoados,
Sem arte,sem beleza e sem Desventura,
Unidos pela mão da Desventura,
Pela baça Tristeza envenenados:
Vede a luz,naõ busqueis,desesperados,
No mundo esquecimento a sepultura;
Se os ditosos vos lerem sem ternura,
Ler-vos-ão com ternura os desgraçados:
Não vos inspire,ó versos,cobardia
Da sátira mordaz o furor louco,
Da maldizente voz e tirania:
Desculpa tendes,se valeis tão pouco,
Que não pode cantar com melodia
Um peito de gemer cansado e rouco.
-BOCAGE-
sábado, fevereiro 24, 2007
PERÍODO DA VIDA MILITAR(1780a1787
I
PROPOSIÇÃO DAS RIMAS DO POETA
Incultas produções da mocidade
Exponho a vossos olhos,ó leitores:
Vede-as com mágoa ,vede-as com piedade,
Que elas buscam piedade,e não louvores:
Ponderai da fortuna a variedade
Nos meus suspiros ,lágrimas e amores;
Notai dos males seus a imensidade,
A curta duração de seus favores:
E se entre versos mil de sentimento
Encontrardes algumas cuja aparência
Indique festival contentamento,
Crede ,ó mortais ,que foram com violência
Escritos pela mão do fingimento,
Cantados pela voz da Dependência
BOCAGE
PROPOSIÇÃO DAS RIMAS DO POETA
Incultas produções da mocidade
Exponho a vossos olhos,ó leitores:
Vede-as com mágoa ,vede-as com piedade,
Que elas buscam piedade,e não louvores:
Ponderai da fortuna a variedade
Nos meus suspiros ,lágrimas e amores;
Notai dos males seus a imensidade,
A curta duração de seus favores:
E se entre versos mil de sentimento
Encontrardes algumas cuja aparência
Indique festival contentamento,
Crede ,ó mortais ,que foram com violência
Escritos pela mão do fingimento,
Cantados pela voz da Dependência
BOCAGE
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