quinta-feira, abril 26, 2007

DESESPERANÇA

-LXII-

Nise,das Graças e de Amor tesouro,
Voto implorado me firmava um dia,
Na face meiga a cândida alegria,
Aos ventos derramada a trança d,ouro:

Eis que junto de nós ave de agouro
Três vezes esvoaça,pousa e pia;
Os ares prenhe sombra enluta,esfria
E o raio estragador cai sobre um louro.

No repentino horror,que a cena altera,
Quereria talvez dizer-me o fado
Que naõ tinha o meu bem alma sincera?

Ah!Só quis persuadir um desgraçado
Que de o felicitar capaz não era
Nem a glória de ser por Nise amado.

-BOCAGE-

quarta-feira, abril 25, 2007

PRETENDENDO ABRANDAR A ESQUIVANÇA DE URSULINA

-LXI-

Desprega as asas,tímida Esperança,
Minha consolação não desanimes:
Adeja,voa;os cultos não são crimes,
Nem Jove a quem o adora os raios lança

Com ais de um coração que não descança,
Terno,benigno dó vai ver se imprimes
Na formosa Ursulina,ou se reprimes
Ténue porção de ríspida esquivança.

Chorosas preces,trémulo respeito,
Exercita com ela,e tu,mimoso
Cândido amor,que escravo me tens feito,

Para adoçar-lhe o génio desdenhoso
Deixa-lhe os olhos,salta-lhe no peito,
Ñão perdes nada,e fazes-me ditoso.

-BOCAGE-

terça-feira, abril 24, 2007

PREDIÇÃO CUMPRIDA

-LX-

Tragado o peito de cruéis pesares,
Em doloroso e rábido transporte,
Contra Amor,de quem pende a minha sorte,
Voavam meus queixumes a milhares:

Eis que,desde os azuis serenos ares,
Me grita o Deus:«Tua alma se conforte,
Que nem sempre o Furor,o Estrago,a Morte,
Ministros hão-de ser dos meus altares:

«Aquela paz,aquele gosto,aquela
Ventura,que até agora te hei negado,
Guardei nos olhos de Ritália bela.»

Disse ,e limpando o rosto amargurado,
Corro da ninfa aos pés,encontro nela
Quanto Amor pode dar,e o Céu ,e o Fado.

-BOCAGE-

segunda-feira, abril 23, 2007

RETRATO DE UMA FORMUSURA ESQUIVA

(Improvisado)
-LIX-

Da minha ingrata Flérida gentil
Os verdes olhos esmeraldas são;
E de cândida prata a lisa mão,
Onde eu dum beijo passaria a mil:

A trança ,cor do Sol,rede subtil
Em que se foi prender meu coração,
É d,ouro,o pai da túmida ambição,
Prole fatal do cálido Brasil:

Seu peito delicado e tentador
É porção de alabasto,a quem jamais
Penetraram farpões do deus traidor;

Mas como há-de a tirana ouvir meus ais,
Como há-de esta cruel sentir amor,
Se é composta de pedras e metais!

-BOCAGE-

domingo, abril 22, 2007

O POETA ASSETEADO POR AMOR

-LVIII-

Ó Céus!Que sinto n,alma!Que tormento!
Que repentino frenesi me anseia!
Que veneno a ferver de veia em veia
Me gasta a vida,me desfaz o alento!

Tal era,doce amada,o meu lamento,
Eis que esses deus,que em prantos se receia,
Me diz:«A que se expõe quem não receia
Contemplar Ursulina um só momento!

«Insano!Eu bem te vi dentre a luz pura
De seus olhos travessos,e cum tiro
Puni tua sacrílega loucura:

«De morte,por piedade hoje te firo;
Vai pois,vai merecer na sepultura
À tua linda ingrata algum suspiro.»

-BOCAGE-

sábado, abril 21, 2007

VISÃO REALIZADA

-LVII-

Sonhei que a mim correndo o gnídeo nume
Vinha coa Morte,co Ciúme ao lado,
E me bradava:«Escolhe,desgraçado,
Queres a Morte,ou queres o Ciúme?

«Não é pior daquela fouce o gume
Que a ponta dos farpões que tens provado;
Mas o monstro voraz,por mim criado,
Quando horror há no Inferno em si resume.»

Disse; e eu dando um suspiro:«Ah,não m,espantes
Coa vista dessa fúria!...Amor,clemência!
Antes mil mortes,mil infernos antes!»

Nisto acordei com dor,com impaciência;
E não vos encontrando,olhos brilhantes,
Vi que era a minha morte a vossa ausência!

-BOCAGE-

sexta-feira, abril 20, 2007

VÉNUS RECONHECENDO A SUPERIORIDADE DA BELEZA DE NISE

-LVI-

Aquela que na esfera luminosa,
Precedendo a manhã,qual astro brilha,
Mãe dos Amores,das espumas filha,
Que o mar na concha azul passeia airosa:

Apenas viu sorrir Nise formosa,
A quem dos corações o Deus se humilha,
Do cinto desatando a áurea presilha,
No regaço lho pôs,leda e mimosa:

«Não te é,bem sei»(lhe diz),«não te é preciso;
Para atrair vontades à ternura
Basta-te um gesto,basta-te um sorrizo:

«Mas deves possuí-lo,ó ninfa pura,
Como troféu,que dê ao mundo aviso
De que Vénus te cede em formosura.»

-BOCAGE-

quinta-feira, abril 19, 2007

INVOCAÇÃO À NOITE

-LV-

Ó deusa,que proteges dos amantes
O destro furto,o crime deleitoso,
Abafa com teu manto pavoroso
Os importunos astros vigilantes:

Quero adoçar meus lábios anelantes
No seio de Ritália melindroso;
Estorva que os maus olhos do invejoso
TurbemD,amor os sôfregos instantes:

Tétis formosa,tal encanto inspire
Ao namorado Sol teu níveo rosto,
Que nunca de teus braços se retire!

Tarda ao menos o carro à Noite oposto,
Até que eu desfaleça,até que expire
Nas ternas ânsias, no inefável gosto.

-BOCAGE-

quarta-feira, abril 18, 2007

PROTESTOS DE CONSTÂNCIA ETERNA

-LIV-

Não temas ,ó Ritalia,que o choroso,
O desvelado Elmano,a fé quebrante,
Não desconfies do singelo amante
Que tu podes,tu só ,fazer ditoso:

Serena o coração tenro e cioso,
Que inda minh,alma te há- de ser constante
Se,o primeiro que a tua ,andar errante
Pelas margens do Letes preguiçoso:

Naquela ao sol inacessível parte,
Dos manes taciturnos entre o bando
Ao negro esquecimento hei-de furtar-te:

E o pensamento alígero voando
Por abafados ares,visitar-te
Dali virá,meu bem,de quando em quando

-BOCAGE-

terça-feira, abril 17, 2007

IMPRECAÇÕES CONTRA UMA INGRATA

-LIII-
(Improvisado)

Vai-te,fera cruel,vai-te,inimiga,
Horror do mundo,escândalo da gente,
Que um férreo peito,uma alma que não sente,
Não merece a paixão,que me afadiga:

O Céu te falte,a Terra te persiga,
Negras fúrias o Inferno te apresente,
E de baça tristeza o voraz dente
Morda o vil coração,que Amor não liga:

Disfarçados ,mortíferos venenos
Entre licor suave em áurea taça
Mão vingativa te prepare ao menos:

E seja,seja tal tua desgraça,
Que ainda por mais leves,mais pequenos,
Os meus tormentos invejar te faça.

-BOCAGE-

segunda-feira, abril 16, 2007

EMPREGA O PODER DA MAGIA PARA DOMAR A RESISTÊNCIA DA SUA AMADA

-LII-

Oleno,meia-noite está caindo:
Acende a vela azul,queima as verbanas,
Torra os ossos da rã chamusca as pernas
Da esquerda gralha,que apanhei dormindo:

Co pé,coa vara,o ar e o chão ferindo
Enquanto o filtro portentos ordenas,
Eu irei,e a meu brado ouvindo apenas
Virão do Inferno as Górgonas surgindo:

Eia,avante o prestígio,não cessemos
Da irresistível mágica porfia,
Contra quem vê sem dó nossos extremos;

Que se hoje o fel tragamos da agonia,
Amanhã doce néctar libaremos
Tu nos braços de Nise,eu nos de Armia.

-BOCAGE-

domingo, abril 15, 2007

DEPLORANDO A MORTE DE NISE

-LI-

Já no calado monumento escuro
Em cinzas se desfez teu corpo brando;
E puder eu ver,ó Nise,o doce,o puro
Lume dos olhos teus ir-se apagando!

Hórridas brenhas,solidões procuro,
Grutas sem luz frenético demando,
Onde maldigo o fado acerbo e duro,
Teu riso,teus afagos suspirando:

Darei da minha dor contínua prova,
Em sombras cevarei minha saudade,
Insacíavel sempre,e sempre nova:

Até que torne a gozar da claridade
Da luz,que me inflamou,que se renova
No seio da brilhante eternidade.

-BOCAGE-

sábado, abril 14, 2007

DELÍRIO AMOROSO

-L-

Meus olhos,atentai no meu jazigo,
Que o momento da morte está chegado;
Lá soa o corvo,intérprete do fado;
Bem o entendo,bem sei, fala comigo:

Triunfa,Amor,gloria-te;inimigo;
E tu,que vês com dor meu duro estado,
Volve à terra o cadáver macerado,
O despojo mortal do triste amigo:

Na campa que o cobrir,piedoso Albano,
Ministra aos corações que Amor flagela
Terror,piedade,aviso e desengano:

Abre em meu nome este epitáfo nela:
«Eu fui,ternos mortais,o terno Elmano;
Morri d,ingratidões,matou-me Isabela.»

-BOCAGE-

sexta-feira, abril 13, 2007

CONJUROS A ANARDA PARA QUE RETRIBUA O SEU AMOR

-XLIX-

Mimosa,linda Anarda,atende,atende
Às doces mágoas do rendido Elmano;
Cum meigo riso,cum suave engano,
Consola o triste amor,que não te ofende.

De teus cabelos ondeados pende
Meu coração,fiel para seu dano;
Coa luz dos olhos teus Cupido ufano
Sustenta o puro fogo,em que me acende

Causa gentil das lágrimas que choro,
A tudo te antepõe minha ternura,
E quanto adoro o Céu,teu rosto adoro:

O golpe que me deste amima e cura...
Mais ai! Que em vão suspiro,em vão te imploro:
Não pertence a piedade à formusura.

-BOCAGE-

quinta-feira, abril 12, 2007

DESEJOS DA PRESENÇA DO OBJECTO AMADO

-XLVIII-

Já o Inverno, expremendo as cãs nevosas,
Geme , de horrendas nuvens carregado;
Luz o aéreo fuzil, e o mar inchado
Investe ao pólo em serras escumosas;

Ó benignas manhãs!,tardes saudosas,
Em que folga o pastor,medrando o gado,
Em que brincam no ervoso e fértil prado
Ninfas e Amores,Zéfiros e Rosas!

Voltai,retrocedei,formosos dias:
Ou antes vem, tu, doce beleza
Que noutros campos mil prazeres crias;

E ao ver-te sentirá minha alma acesa
Os perfumes ,o encanto,as alegrias,
Da estação que remoça a natureza.

-BOCAGE-

quarta-feira, abril 11, 2007

RECORDAÇÕES DE UMA INGRATA

-XLVII-

Inda em meu frágil coração fumega
A cinza desse fogo em que ele ardia:
A memória da tua aleivosia
Meu sossego inda aqui desassossega:

A vil traição,que as almas nos despega,
Não tem cabal poder na simpatia:
Gastar o mar importuno a rocha fria,
Melhor que o desengano a paixão cega;

Bem como o flavo sol,que a terra abraça,
Por mais que o vejo densamente oposto,
Atraído vapor fere,e repassa:

Tal,para misturar gosto e desgosto,
Na sombra de teus crimes brilha a graça,
Com que o pródigo Céu criou teu rosto.

-BOCAGE-

terça-feira, abril 10, 2007

VISÃO AMOROSA

-XLVI-

No carro de marfim sentada a Lua
Da antiga mãe das sombras triunfava,
Quando a furtivos gostos me guiava
Amor, a quem me entrega a sorte crua:

«Hoje»(me disse o nume)«há-de-ser tua
A ninfa mais gentil que o Tejo lava;
Não deram tanta glória à minha aljava
Nem Vénus a carpir,nem Tétis nua:

«Ali dorme o teu bem...vê,que momento!...»
Olho ,corro anelante ,aos pés lhe caio,
Mas tentando abraçá-la o vento;

Meu peito arqueja em súbito desmaio;
Eis que soa esta voz de horrendo acento:
«Profano!Expia o crime,e teme o raio!»

-BOCAGE-

segunda-feira, abril 09, 2007

QUEIXUMES CONTRA OS DESPREZOS DA SUA AMADA

-XLV-

Ó trevas,que enlutais a natureza,
Longos ciprestes desta selva anosa,
Mochos de voz sinistra,e lamentosa,
Que dissolveis dos fados a incerteza:

Manes,surgidos da morada acesa
Onde de horror sem fim Plutão se goza,
Não aterreis esta alma dolorosa,
Que é mais triste que vós minha tristeza:

Perdi o galardão da fé mais pura,
Esperanças frustrei do amor mais terno,
A posse de celeste formusura:

Volvei pois,sombras vãs,ao fogo eterno;
E lamentando a minha desventura
Movereis à piedade o mesmo inferno.

-BOCAGE-

domingo, abril 08, 2007

A RAZÃO DOMINADA PELA FORMOSURA

-XLIV-

Importuna Razão,não me persigas,
Cesse a ríspida voz que em vão murmura;
Se a lei de Amor,se a força da ternura
Nem domas,nem contrastas,nem mitigas:

Se acusas os mortais,e os não abrigas,
Se (conhecendo o mal) não dás a cura,
Deixa-me apreciar minha loucura,
Importuna Razão,não me persigas.

É teu fim,teu projecto,encher de pejo
Esta alma,frágil vítima daquela
Que,injusta e vária,noutros laços vejo:

Queres que fuja de Marília bela,
Que a maldiga a desdenhe; e o meu desejo
É carpir,delirar morrer por ela.

-BOCAGE-

sábado, abril 07, 2007

AMOR TRIUNFANDO DA MAGIA

-XLIII-

Busquei num ermo Algânia feiticeira,
Que de abrasado feixe a par jazia;
Fui ver se atro conjunto me extorquia
Do laço antigo esta alma prisioneira:

Expus-lhe minha fé minha cegueira,
Tracei meus males,e a rugosa estria
Cedendo às ternas mágoas,que me ouvia,
Cuspiu três vezes na voraz fogueira:

Trémulas preces murmurou,e eu mudo;
Eis que as melenas em sinal d,espanto
Eriça com semblante carrancudo:

«Meu rito é vão»(me diz)«e é vão teu pranto;
O poderoso Amor zomba de tudo,
Não vence encanto algum d,Amor o encanto.»

-BOCAGE-

sexta-feira, abril 06, 2007

DESENGANO DE AMOR

-XLII-

Triste quem ama,cego quem se fia
Da feminina voz na vã promessa!
Aspira a vê-la estável!Mais depressa
O facho apagará que espalha o dia:

Alada exalação,que na sombria
Tácita noite os ares atravessa,
Foi comigo a paixão volúvel dessa
Que o peito me afagava e me feria:

Do desengano o bálsamo lhe aplico,
E a teus laços,Amor ,sem medo exponho
Dos benéficos céus o dom mais rico:

Vejo mil Circes plácido risonho;
E se fé me prometem,ouço,e fico
Como quem despertou de aéreo sonho.

-BOCAGE-

quinta-feira, abril 05, 2007

A ESQUIVANÇA DE ARMIA

-XLI-

Pela porta de ferro ,onde ululando
O cão trifauce está perpetuamente,
Entraste,Orfeu,coa cítara eloquente
Os monstros infernais domesticos:

Penedos com teus sons amontando
Lá ergues Tebas ,Anfíon cadente;
Pulsa Aríon a lira,e de repente
Vê delfins,vê tritões no mar dançando:

Tu,linguagem do Céu,tu,melodia,
A tudo encantas,para tudo és forte,
Menos para aplacar a ingrata Armia:

Mais fácil te há-de-ser.domando a sorte,
Ir de novo à tartára monarquia
Ver outra vez o cárcere da morte!

-BOCAGE-

quarta-feira, abril 04, 2007

O CIÚME

-XL-

Entre as tartáreas forjas,sempre acesas,
Jaz aos pés do tremendo,estígio nume,
O carrancudo,o rábido Ciúme,
Ensanguentadas as corruptas presas:

Traçando o plano de cruéis empresas,
Fervendo em ondas de sulfúreo lume,
Vibra da fauces o letal cardume
De hórridos males ,de hórridas tristezas;

Pelas terríveis Fúrias instigado
Lá sai o Inferno,e para mim se avança
O negro monstro,de áspides toucado:

Olhos em brasa de revés me lança,
Ó dor!Ó raiva,Ó morte!...Ei-lo a meu lado,
Ferrando as garras na vipérea trança.

-BOCAGE-

terça-feira, abril 03, 2007

LASTIMANDO-SE DA INGRATIDÃO DE NISE

-XXXIX-

Canta ao som dos grilhões o prisioneiro,
Ao som da tempestade o nauta ousado,
Um porque espera o fim cativeiro,
Outro antevendo o porto desejado:

Explora a vida ao tigre mosqueado,
Gira sertões o sôfrego mineiro,
Da esperança dos lucros encantado,
Que anima o peito vil e interesseiro:

Por entre armadas hostes destemido
Rompe o sequaz do horrífico Mavorte,
Co triunfo,coa glória no sentido:

Só eu (tirano Amor!,tirana sorte!)
Só eu por Nise ingrata aborrecido
Para ter fim meu pranto espero a morte.

-BOCAGE-

segunda-feira, abril 02, 2007

FESTEJANDO O DIA NATALÍCIO DE ANARDA

-XXXVIII-

Vinde,Prazeres,que por entre flores
Nos jardins de Citera andais brincando,
E vós,despidas Graças,que dançando
Trinais alegres sons encantadores:

Deusa dos gostos,deusa dos amores,
Ah!,dos filhinhos teus ajunta o bando,
E vem nas asas de Favónio brando
Dar força ,dar beleza,a meus louvores.

Da linda Anarda minha voz aspira
A cantar o natal;tu,por clemência,
O teu fiel cantor,deidade,inspira:

Do trácio vate empresta-me a cadência,
E faze que mereça a minha lira
Os cândidos sorrisos da inocência.

-BOCAGE-

domingo, abril 01, 2007

INSÓNIA

-XXXVII-

Ó retrato da morte,ó Noite amiga
Por cuja escuridão suspiro há tanto!
Calada testemunha de meu pranto,
De meus desgostos secretária antiga!

Pois manda ,Amor,que a ti somente os diga,
Dá-lhes pio agasalho no teu manto;
Ouve-os,como costumas ,ouve , enquanto
Dorme a cruel, que a delirar me obriga:

E vós,ó cortesãos da escuridade,
Fantasmas vagos,mochos piadores,
Inimigos ,como eu,da claridade!

Em bandos acudi aos meus clamores;
Quero a vossa medonha sociedade,
Quero fartar meu coração de horrores.

-BOCAGE-