-XLVI-
No carro de marfim sentada a Lua
Da antiga mãe das sombras triunfava,
Quando a furtivos gostos me guiava
Amor, a quem me entrega a sorte crua:
«Hoje»(me disse o nume)«há-de-ser tua
A ninfa mais gentil que o Tejo lava;
Não deram tanta glória à minha aljava
Nem Vénus a carpir,nem Tétis nua:
«Ali dorme o teu bem...vê,que momento!...»
Olho ,corro anelante ,aos pés lhe caio,
Mas tentando abraçá-la o vento;
Meu peito arqueja em súbito desmaio;
Eis que soa esta voz de horrendo acento:
«Profano!Expia o crime,e teme o raio!»
-BOCAGE-
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