quarta-feira, abril 11, 2007

RECORDAÇÕES DE UMA INGRATA

-XLVII-

Inda em meu frágil coração fumega
A cinza desse fogo em que ele ardia:
A memória da tua aleivosia
Meu sossego inda aqui desassossega:

A vil traição,que as almas nos despega,
Não tem cabal poder na simpatia:
Gastar o mar importuno a rocha fria,
Melhor que o desengano a paixão cega;

Bem como o flavo sol,que a terra abraça,
Por mais que o vejo densamente oposto,
Atraído vapor fere,e repassa:

Tal,para misturar gosto e desgosto,
Na sombra de teus crimes brilha a graça,
Com que o pródigo Céu criou teu rosto.

-BOCAGE-

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